"Numa ocasião difícil para o
país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e
vencer a crise, a verdade é que os chineses disseram presente, vieram e deram
um grande contributo para que Portugal pudesse estar hoje na situação em que
está, bastante diferente daquela que estava há quatro anos" (António Costa, 19-02-2015).
Esta foi a frase que desencadeou uma campanha de
oportunismo político por parte dos partidos da coligação e perturbações no
interior do partido socialista.
"Numa ocasião difícil para o
país, em que muitos não acreditaram que o país tinha condições para enfrentar e
vencer a crise, a verdade é que os chineses disseram presente,…” . António Costa, distinguido pela comunidade chinesa como o homem do ano,
procurou retribuir a distinção salientando a importância desta comunidade na história
recente do país. António Costa é uma pessoa empática e respondeu com
reconhecimento ao reconhecimento que lhe foi prestado. Muito provavelmente
falou assim o cidadão e o político porque esperaria contar com o apoio desta
comunidade ao seu futuro governo. E qual é a relevância dos chineses
portugueses nas decisões estratégicas do estado chinês, das grandes empresas estatais
e dos chineses ricos dos vistos dourados? Provavelmente muito limitada. Mas
para um político, sobretudo na situação específica de António Costa, todos os
apoios são críticos.
Mas António Costa diz outra coisa: “…em
que muitos não acreditaram que o país…”. Quem foram os muitos que não
acreditaram no país? Os mercados, as agências de rating, os investidores dos países da zona do euro, a troica que impôs
um resgate com juros elevados.
Por fim, a sequência assassina “…para
que Portugal pudesse estar hoje na
situação em que está, bastante diferente daquela que estava há quatro
anos". Em Fevereiro de 2015, quatro anos antes das declarações de
António Costa à comunidade chinesa em Portugal, dizia Passos Coelho a propósito
de uma moção de censura ao governo de José Sócrates que o bloco de esquerda
(be) iria apresentar na Assembleia da República: "Se algum dia chegarmos à evidência que o Governo não cumpre
aquilo a que se comprometeu, que há uma situação financeira de rutura em
Portugal, que o país está num impasse, num beco sem saída, então nós
arranjaremos uma saída." Portanto, na realidade há quatro anos
o país estava num impasse com um governo minoritário enfrentando sozinho uma instabilidade
económica e financeira grave provocada pela crise das dívidas soberanas dos
países periféricos da zona do euro, enquanto o partido social democrata
esperava a melhor oportunidade para desferir o golpe na situação política mais
favorável, isto é, quando houvesse sinais de rutura financeira: a velha máxima
do quanto pior, melhor.
Se considerarmos que os quatro anos a que se referia António Costa não
seriam exatamente quatros anos mas aproximadamente quatro anos, então os meses
de Março, Abril, Maio e Junho de 2011 assistiriam ao episódio do “PEC IV”, à
demissão do governo, ao discurso mortífero de Cavaco Silva no 25 de Abril, à
degradação da situação financeira com apelo à intervenção da troica e à derrota
do ps nas eleições legislativas. Do ponto de vista financeiro, os países da
zona do euro, os mercados, o psd e o cds e o presidente da república contribuíram
para criar uma situação de instabilidade aguda que aproximou o país da
bancarrota. Esta situação não se vive neste momento porque o ps contribuiu para
a criação de um ambiente de estabilidade com prejuízo do seu desempenho
eleitoral. Posteriormente, o povo português suportou sacrifícios extremos impostos
pelo programa de ajustamento económico e financeiro e contribuiu para que a pressão
dos mercados se aliviasse.
Do ponto de vista económico, digamos crónico, a situação é mais grave que
em 2011 e um futuro governo do ps confrontar-se-á sobretudo, com essa realidade.
António referia-se à fase aguda e não à fase crónica. Para tratar desta, espera
a contribuição da comunidade chinesa de Portugal a que piscou os dois olhos.
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