A crise política entrou numa fase subaguda. O presidente da República não aceitou a proposta de remodelação do governo apresentada pelo primeiro-ministro, Passos Coelho. Interveio e exigiu tino e um acordo entre os partidos que assinaram o programa de ajustamento económico e financeiro com a troica. No final, chamou os portugueses para o lugar do juiz, destinados a julgar o comportamento dos políticos se estes não chegarem a um entendimento mínimo.
Os portugueses foram apanhados de surpresa e divergiram nas suas opiniões. Para já, o presidente recuperou a iniciativa política perdida e tentou reposicionar-se perante a História. Este facto é positivo tendo em consideração que em tempos de crise política e financeira profunda, os governantes devem estar valorizados. Por outro lado, demonstrou que toda a sua estratégia de intervenção política neste segundo mandato esteve sempre errada: foi errado contribuir para a demissão de José Sócrates, foi errado o seu alinhamento acrítico com o governo de Passos Coelho e Paulo Portas, foi incompreensível a sua passividade política e institucional durante tantos meses e, sobretudo, quando existiam – e se reforçam diariamente sob os nossos olhos - os sinais de uma crise de grandes proporções na sociedade portuguesa.
A agudização da crise política (demissão de Vitor Gaspar, demissão de Paulo Portas, recondução de Paulo Portas como vice-primeiro ministro, discurso do presidente exigindo um acordo entre os três partidos que assinaram o memorandum com a troica e marcando eleições para Junho do próximo ano) tem uma causa primária: a redução da despesa do Estado em 4,7 mil milhões de euros até 2015. A reforma do Estado traduz este corte brutal na despesa. Por sua vez, o corte refere-se fundamentalmente ao despedimento (requalificação, mobilidade) e à redução dos salários dos funcionários públicos e à diminuição das pensões dos reformados e pensionistas com valor superior a 600 euros. Vitor Gaspar percebeu que não tinha condições para progredir com estes cortes, Paulo Portas teve medo, Cavaco Silva não acreditou que a remodelação do governo conseguisse levar por diante a tarefa e quis comprometer o Partido Socialista para aumentar a base de apoio e retirar-lhe espaço de manobra político.
Entretanto os juros da dívida portuguesa sobem, quer nas maturidades de 10 anos, como a curto prazo e a probabilidade de um novo resgate aumenta dramaticamente.
Em boa verdade, no que diz respeito à questão causa primária desta crise, Portugal tem três formas para resolver a questão:
• Faz a redução da despesa do Estado em 4,7 mil milhões de euros com o perfil que descrevi acima;
• Faz crescer a economia, desde já, a uma taxa de crescimento de pelo menos 4% ao ano<
• Pede um novo resgate.
Todas as outras soluções são combinações destas três soluções com pesos e em proporções variáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário