Pesquisar neste blogue

sábado, 9 de março de 2013

Sínteses

Portugal comprometeu-se com uma inevitabilidade histórica caracterizada pela decadência e pelo empobrecimento, que durará pelo menos mais 10 anos. E iniciou este percurso há 15 anos. 
Hoje somos um protectorado de três instituições: a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional. A denominada troika. Os credores que nos socorreram num momento de aflição. Como a Inglaterra nos socorreu durante as invasões napoleónicas e impôs um protectorado com uma Junta Governativa chefiada por Beresford.   
Discutimos com a troika as alterações que iremos fazer no perfil das nossas prestações sociais (vulgarmente denominado, Estado Social), a metodologia que utilizaremos para diminuir a massa salarial da função pública (redução salarial versus despedimentos), a forma de contornar as decisões do Tribunal Constitucional sobre a lei do orçamento para 2013, o valor do salário mínimo nacional ou as características das nossas forças armadas e da capacidade de defesa da zona económica exclusiva.       
Imagino que nenhum português gosta desta situação, nem os reformados, nem os desempregados, nem o governo, nem as centrais sindicais ou as conferações patronais. Talvez me engane. Julgo que ainda existe aquele grupo dos que acham, bendita troika que nos faz fazer aquilo que nunca seríamos capazes de fazer. Felizmente que a Inglaterra nos ajudou a lutar contra os invasores franceses. Sozinhos teríamos sido subjugados por Napoleão. 
"Que lixe a troika" é a palavra de ordem das manifestações de 2 de Março (aliás, glosando a frase do primeiro-ministro, "que se lixem as eleições"). E será possível mandar embora a troika e dizer que a partir de agora nós decidimos a taxa de desemprego, o salário mínimo e o estado social? 
O governo quer seguir uma estratégia concordante com os protectores da troika e, lentamente, tornar-nos autónomos do ponto de vista financeiro (o chamado regresso ao mercado). O partido socialista aposta em substituir o governo num esquema de alternância de poder. E para isso defende que é fundamental promover a coesão social. Isto é, promover a coesão social tendo como pano de fundo um protectorado dependente do financiamento como esteve no século XIX das armas inglesas. Apoia-se para tal numa estratégia de convencimento assertivo da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional sobre a bondade desta opção. Eventualmente, promovendo alianças com países nas mesmas circunstâncias ou próximas delas, ou em que tenham subido ao poder partidos de centro-esquerda (ex.: França).
O partido comunista e o bloco de esquerda querem renegociar os juros e a dívida, aliviando os encargos futuros e transferindo esse dinheiro para a economia. Mas os credores não estão interessados na economia. Estão focados em receber, o mais depressa possível, o dinheiro que emprestaram com os respectivos juros. 
Aqui chegados, mantém-se a perspectiva de decadência e empobrecimento, que durará pelo menos mais 10 anos. E nestes 10 anos muita coisa vai acontecer, não apenas do ponto de vista interno, mas sobretudo externo (União Europeia, Estados Unidos, países emergentes). E neste contexto que deveríamos estar a pensar, todos.       
   

Sem comentários: