O secretário-geral da Central Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) referiu-se ao chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, Abe Selassie, como "o mais escurinho". A frase aliás deve ser transcrita de forma fiel para que possa ser analisada: "Daqui a pouco vêm aí outra vez os três reis magos, um do Banco Central Europeu, outro da Comissão Europeia e o mais escurinho, o do FMI, e já se fala em mais medidas de austeridade".
O presépio entrou definitivamente na simbologia do regime através de um ministro das finanças de apelido Gaspar, pela visita periódica de três entidades a solo português trazendo prendas à condição e, desgraçadamente, pelo facto de um dos representantes ser etíope e mais escuro do que os outros, os quais são menos escurinhos e alemães.
Nada disto bate certo: Gaspar era um dos reis magos da história mas não faz parte dos três representantes que nos visitam. É sim, visitado. Uma espécie de Menino Jesus nas palhinhas. Abe Selassie não é Baltazar, o rei mago negro, e não traz mirra (a imortalidade). Por outro lado, ficamos sem saber qual dos outros representantes, são respectivamente, Belchior e Gaspar. Gaspar, o rei mago que levava o incenso, não o ministro das nossas finanças.
Os dois outros representantes da troika são menos escurinhos. Mas atenção, um dos reis magos que não era escurinho não era propriamente branquinho. Era sim, amarelinho.
Abe Selassie é o menos branquinho dos representantes da troika. Os branquinhos carregam às suas costas o fardo de terem escravizado os mais escurinhos. Aliás substituir a expressão "0 mais escurinho" por "etíope" também pode não ser bem visto. Os etíopes são um povo que passou períodos de fome intensa, inclusivamente na 2.ª metade do século XX, e ser etíope já significou que a pessoa em questão tinha um aspecto esquálido, apenas pele e osso. Um pouco como "vir do Biafra".
O Arménio Carlos atrapalhou-se na simbologia. O Abe Selassie baralhou-se nos números quando disse que Portugal atribuía "reformas generosas". O Arménio Carlos não pode utilizar o advérbio "mais" combinado com o adjectivo "escurinho" para ridicularizar ou diminuir alguém. Talvez tivesse sido politicamente correto dizer "o menos branquinho". O Abe Sellassie não pode tomar as árvores da floresta por algumas árvores. Talvez tivesse sido mais adequado afirmar que "reformas muito generosas são atribuídas a algumas pessoas quem não trabalharam nem descontaram o tempo suficiente para as ter".
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