O Natal é uma época invulgar para todos,
os crentes e os descrentes. É pouco relevante que esta comemoração tivesse
surgido nos confins dos tempos para comemorar o solstício de Inverno (no
Hemisfério Norte). É significativo sim, que os homens sintam necessidade de se
comprometer com símbolos diferentes para a mesma época.
No século III, a Igreja criou o nosso
Natal e deu à data (época) uma investidura oportunista: a Natividade. A captura
simbólica foi de tal forma bem-sucedida que resistiu aos séculos e aos
milénios.
A Natividade foi contemporânea, embora não
haja um consenso entre os historiadores, de um acontecimento de importância regional
no Império Romano, o recenseamento determinado por Quirino. Existe, portanto,
uma dimensão política na viagem de Maria e de José para Belém.
Apesar de o episódio do “Massacre
dos Inocentes” parecer não ter veracidade histórica, tem plausibilidade: Herodes é descrito como um governante violento, implacável e megalómano.
A Natividade ocorreu, assim, na convergência
de duas realidades históricas: a consolidação da dominação romana mediada pela
aplicação de novas exigências administrativas e o exercício despótico do poder
por um governante local.
Seria uma interpretação histórica determinísticoa se considerássemos que a Natividade resultou de uma resposta
espiritual, inspirada nas profecias do Antigo Testamento, a uma conjuntura política
de privação da identidade religiosa e nacional. Provavelmente, esta
interpretação é inapropriada do ponto de vista científico.
Mas o nascimento de Jesus Cristo (o
Natal, a Natividade) tem acima de tudo um significado metaistórico: as
imperfeições humanas são compreendidas e os homens podem ser perdoados, o eu de cada um realiza-se de forma significante no eu dos outros, e o futuro é um tempo de esperança construído todos os dias.
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