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domingo, 28 de dezembro de 2014

A metaistória do Natal



O Natal é uma época invulgar para todos, os crentes e os descrentes. É pouco relevante que esta comemoração tivesse surgido nos confins dos tempos para comemorar o solstício de Inverno (no Hemisfério Norte). É significativo sim, que os homens sintam necessidade de se comprometer com símbolos diferentes para a mesma época. 

No século III, a Igreja criou o nosso Natal e deu à data (época) uma investidura oportunista: a Natividade. A captura simbólica foi de tal forma bem-sucedida que resistiu aos séculos e aos milénios.

A Natividade foi contemporânea, embora não haja um consenso entre os historiadores, de um acontecimento de importância regional no Império Romano, o recenseamento determinado por Quirino. Existe, portanto, uma dimensão política na viagem de Maria e de José para Belém. 
Apesar de o episódio do “Massacre dos Inocentes” parecer não ter veracidade histórica, tem plausibilidade: Herodes é descrito como um governante violento, implacável e megalómano.

A Natividade ocorreu, assim, na convergência de duas realidades históricas: a consolidação da dominação romana mediada pela aplicação de novas exigências administrativas e o exercício despótico do poder por um governante local. 

Seria uma interpretação histórica determinísticoa se considerássemos que a Natividade resultou de uma resposta espiritual, inspirada nas profecias do Antigo Testamento, a uma conjuntura política de privação da identidade religiosa e nacional. Provavelmente, esta interpretação é inapropriada do ponto de vista científico.

Mas o nascimento de Jesus Cristo (o Natal, a Natividade) tem acima de tudo um significado metaistórico: as imperfeições humanas são compreendidas e os homens podem ser perdoados, o eu de cada um realiza-se de forma significante no eu dos outros, e o futuro é um tempo de esperança construído todos os dias.

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