O mundo estava a guardar-se para ter uma oportunidade única de glorificar a esperança. E assim, a morte de Nelson Mandela contribuiu para recordar aquilo que já sabíamos: a determinação de um guerrilheiro comprometido com a luta armada contra o apartheid que haveria de transformar-se numa coragem infinita mostrada no perdão pelos opressores.
Nos anos oitenta, após a queda dos regimes coloniais portugueses em Moçambique e em Angola e, contemporaneamente com a queda do muro de berlim pensava-se, pensávamos todos, que a queda dos apartheids (na África do Sul e na Rodésia) seria algo de muito doloroso, sangrento, de uma brutalidade avassaladora. O mundo estava a ser convocado para um momento titânico.
E na verdade, as previsões para o apocalipse não se confirmaram. Também a queda dos regimes do socialismo real estavam a ser pacíficos.
Nelson Mandela foi o rosto tangível desta revolução pacífica, e democrática, em que os valores dos direitos humanos e da liberdade triunfaram num tempo e num espaço improváveis.
Mandela teve uma vida longa, permitindo-lhe desempenhar muitos papéis e construir muitos olhares sobre a realidade. Talvez outros revolucionários não tivessem tido esta oportunidade porque morreram precocemente e as sínteses a que a reflexão apela não tiveram a oportunidade de modular os actos.
A África do Sul continua um país com muitas injustiças, em que a criminalidade marca os dias e o desemprego e a pobreza habitam os subúrbios das grandes cidades. As doenças, em especial a epidemia da infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida, abrem feridas profundas na sociedade sul-africana e novos factores de promoção da desigualdade entre os homens.
A História não acabou com Nelson Mandela. E a sua vida não terminou com a injustiça no planeta. Mas a imaginação dos homens foi enriquecida com a sua presença. E as utopias começam na imaginação humana.
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