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sábado, 4 de maio de 2013

Menu de medidas

As profissões tendem a construir uma gíria para utilização entre os seus especialistas e para assim vincarem as especificidades das suas actividades.  Os políticos importam as gírias alheias: "o remédio que mata o doente" ou "a receita que não está a funcionar".

Agora, os políticos alargam o horizonte semântico e dirigem-se a outras áreas da actividade humana. Que luxuriante ideia a de referir-se às recentes medidas de austeridade como o "menu de medidas". Portanto, o despedimento de 50 000 funcionários públicos, o aumento da contribuição para a ADSE por parte dos mesmos funcionários, o aumento da idade para a reforma sem penalizações (66 anos), a redução das reformas, constituem, com outras o "menu de medidas". 

A gastronomia e a informática. As duas a fornecerem a identidade ao conjunto das medidas: o menu. As palavras não são apenas significados. São ambientes, cheiros, conceitos históricos, discursos anteriores.

O governo prepara-se para atirar para o desemprego dezenas de milhares de pessoas que, sabe de antemão, nunca mais terão outra oportunidade no mercado de trabalho em Portugal. São ao mesmo tempo, os mais fracos e os menos diferenciados. É um menu de oportunidades. 

Ao primeiro-ministro ocorreu a expressão "menu de medidas" (de austeridade) para conceptualizar a sua política. Quando nos sentarmos à mesa de um restaurante e pedirmos o menu (a ementa), ficará perante nós o valor que o primeiro-ministro dá à vida das pessoas.

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