A Europa sente-se ameaçada. Ameaçada pelos grupos terroristas de
inspiração islâmica (Estado Islâmico, Al-Qaeda), pelos imigrantes provenientes
de países do Médio Oriente (Síria, Iraque) e de África (Somália, Líbia). E, na
verdade, tem motivos para esse sentimento.
Em primeiro lugar, a diversidade política, económica e cultural
dos países europeus não permite uma atitude estratégica comum: a União Europeia
não tem instrumentos que permitam uma intervenção conjunta; a Ucrânia, a
Rússia, os países do Cáucaso e a Turquia não fazem parte, por opção própria e
por falta de visão estratégica da União Europeia, deste continente.
Em segundo lugar, as formas de terrorismo (fuzilamentos em massa,
atentados suicidas, explosões e tomada de reféns) exibidas mais recentemente - série
de ataques terroristas ocorrido na noite de 13 de novembro de 2015 em Paris e
no subúrbio de Saint-Denis, em França – nunca tinham sido observadas no
território da Europa Ocidental. Em rigor, tratou-se da transplantação de formas
de terrorismo utilizadas em outras regiões (Médio Oriente, África) para as ruas
de uma das capitais mais importantes da Europa. Este acontecimento introduziu
uma componente adicional de vulnerabilidade nas sociedades europeias e
confrontou os cidadãos com um conjunto de perigos aleatórios cujo manuseamento
implicará, necessariamente, a limitação, objetiva ou subjetiva, das liberdades
individuais.
Em terceiro lugar, as
sociedades europeias, as suas opiniões públicas, os governos e as autoridades
supranacionais demonstram dificuldade na compreensão dos novos fenómenos sociais
e históricos que surgem a partir do Médio Oriente: um grupo terrorista transformado
num estado – o Estado Islâmico-, estados fracassados com fronteiras herdadas da
época colonial – Síria, Iraque, Líbano, Líbia-, grupos políticos cuja ideologia
mergulha na história remota de uma religião – o brilhantismo dos califados
islâmicos do século VII.
Em quarto lugar, a Europa
é pressionada por um fluxo imigratório proveniente da região do Médio Oriente e
da África, e assume uma atitude ambivalente: não está confortável em admitir de
forma brusca milhões de refugiados no seu tecido social, também em crise
demográfica e social, mas não pode abandonar, sem consequências profundas, a
defesa dos direitos humanos, incluindo o direito a uma vida digna para todas as
pessoas, independentemente da sua religião, da sua condição social ou da sua origem
étnica.
Em quinto lugar, a Europa
declara-se formalmente em guerra contra algumas entidades no Médio Oriente –
França em relação ao Estado Islâmico- conquanto muitos dos autores dos
atentados terroristas são cidadãos europeus – muitos pertencendo à segunda ou
terceira geração de imigrantes magrebinos em França. O processo de
radicalização islâmica (jihadista) destes cidadãos ocorre rapidamente e parece vir
dar resposta a uma situação de revolta incongruente vivida e alimentada nos
subúrbios das grandes cidades como Paris ou Londres.
Em sexto lugar, as
opiniões públicas europeias não têm uma visão informada sobre a origem do
Estado Islâmico e dos outros grupos terroristas que partilham a cena geoestratégica
no Médio Oriente. Desta forma, a análise dos fenómenos políticos, religiosos e
militares é deficiente e contribui para a desorientação geral dos europeus e a
potenciação da sensação de ameaça que se assenhoreou dos europeus.
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