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domingo, 13 de abril de 2014

Uma questão menor

A Associação 25 Abril respondeu ao convite da presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, para estar presente nas comemorações dos 40 anos do dia 25 de Abril de 1974, com uma contraproposta: os militares do 25 de Abril participariam nas comemorações oficiais se lhes fosse permitido intervir activamente, discursando. Assunção Esteves não respondeu, respondendo que isso nunca esteve em discussão e que o "o problema é deles".

O que revela este episódio, esta "questão menor" nas palavras do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho?

Assunção Esteves fez a sua obrigação institucional de convidar a Associação 25 de Abril sabendo, de antemão, que recusariam, à semelhança do que aconteceu nos dois anos anteriores, os anos da intervenção da troica em Portugal.

A Associação 25 de Abril, através de Vasco Lourenço, não quis dar de barato a sua ausência das comemorações oficiais do Dia da Liberdade e desafiou o poder político actual, representado pela presidente da Assembleia da República.

Assunção Esteves mostrou a sua desconsideração pública pelos militares de Abril, em directo, para os meios de comunicação social, televisões incluídas. A sua irritação não dissimulada com o assunto deixou-nos esclarecidos sobre as suas ideias inspiradoras.

A Associação 25 de Abril não estará presente nas comemorações do dia 25 de Abril de 1974. Não terá capacidade para mobilizar a sociedade portuguesa para comemorar a data através de um evento alternativo, que congregasse muitas das forças políticas e sociais deste país. Por acomodação e por estreiteza de visão estratégica.

Sejamos verdadeiros. As comemorações oficiais do 25 de Abril serão inconsequentes, patéticas e irrelevantes, excepto se o presidente decidir florear as suas opiniões para dizer alguma coisa não dizendo nada ou dizendo alguma coisa que desdirá dentro de alguns meses viajando naquele carrossel de hipocrasias que tem sido a sua vida política.

A presidente da Assembleia da República, o presidente da República e o governo de Portugal não gostam da data nem da ideia de comemorar o 25 de Abril. A direita portuguesa não gosta dos ideais, dos valores, dos sonhos, do programa do Movimento das Forças Armadas. São um escolho, um pesadelo. 

Dir-se-á: esta direita é democrática, aderiu ao regime democrático e, portanto, pelo menos com o "Democratizar" concordam. Erro tão profundo. Teremos de ser mais pragmáticos. Esta direita é, em muitos aspectos, a herdeira directa do regime do Estado Novo. Rejuvenescida de forma imprevista pelo neo-liberalismo. Nunca cortou as ligações morais com a direita integralista, apenas absorveu outros matizes ideológicos.

Os partidos do Governo e o presidente não gostam do 25 de Abril, nem da ideia de comemorar o seu 40.º aniversário. São obrigados a fazê-lo porque nesse dia ocorreu um golpe e uma revolução popular, da forma mais original que a história europeia registou.

Ser coerente é recusar-se a comemorar o 25 de Abril quando de facto o odiamos de forma intrínseca e estrutural. Ser coerente é não comparecer nas cerimónias quando se reconhece que quem organiza o evento o detesta visceralmente. 
      

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