No final de cada ano juntam-se algumas ideias sobre aquilo que supomos ser o próximo ano, neste caso o ano de 2014. Alguns vão mais longe e torturam a imaginação para construírem modelos aplicáveis às próximas décadas.
O programa de ajustamento económico e financeiro (paef) assinado com a tróica terminará no final de maio de 2014. E existirá, de facto, um momento que assinalará o fim do paef. Independentemente da morfologia que revistirá a ajuda que a zona euro e a comissão europeia continuarão a dispensar a Portugal, o governo português (e o presidente da república) poderão reivindicar ter conseguido cumprir o paef. A oposição socialista contraporá que este paef não corresponde ao originalmente assinado (em maio de 2011) e que as consequências deste "novo" paef foram o desemprego (dos jovens, de longa duração, das pessoas de meia-idade), a precariedade, a emigração e o empobrecimento dos reformados e pensionistas, e da classe média em geral.
Em todo o caso, o governo português marcará pontos junto dos mercados, das entidades que constituem a tróica e, fundamentalmente, junto do governo alemão (uma coligação entre cdu e spd construída com regra e esquadro e preparada para durar). Assim, o suporte europeu não faltará, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista político.
Uma derrota da coligação governamental, esperada, nas eleições europeias do próximo ano, não quebrará a consistência do quadro político e pode mesmo contribuir para um reforço da imagem do governo português junto de bruxelas e berlim. A pertinácia na prossecução das políticas austeritárias, com prejuízo do sucesso eleitoral, é um comportamento requestado pela europa do norte para os países do sul.
A incerteza contudo, provém das consequências do orçamento de estado para 2014. Não tanto do processo de fiscalização pelo tribunal constitucional, mas das consequências recessivas das medidas previstas no documento ou de medidas alternativas àquelas que forem chumbadas mas cujo fim é, na essência, o mesmo: a redução do défice público para 4%, enquanto a taxa de crescimento da economia é inferior a 1%.
Os portugueses já perceberam que as condições políticas europeias são determinantes da evolução da cena política portuguesa. O projecto da união europeia para Portugal assenta na continuação do favorecimento do controlo das contas públicas sobre o crescimento da economia. As metodologias que suportam este projecto baseiam-se em medidas que promovem a desvalorização salarial e a redução significativa do perímetro do estado social.
Sem comentários:
Enviar um comentário