O primeiro-ministro de Portugal estava preocupado com o choque de expectativas que o orçamento para 2014 poderia constituir para os portugueses.
Esta ideia é enigmática do ponto de vista analítico, mas na sua versão mais básica, deveria querer significar que os portugueses poderão vir a sentir uma comoção intensa quando conhecerem e tomarem consciência do conteúdo do referido documento. Não foi assim.
Esta ideia é enigmática do ponto de vista analítico, mas na sua versão mais básica, deveria querer significar que os portugueses poderão vir a sentir uma comoção intensa quando conhecerem e tomarem consciência do conteúdo do referido documento. Não foi assim.
Os portugueses esperavam um orçamento restritivo, com medidas tendentes a diminuir de forma dramática os seus rendimentos, designadamente os salários dos funcionários públicos e as reformas e pensões. Não houve choque de espectativas.
Os portugueses esperavam que o imposto sobre rendimento das empresas (IRC) diminuísse. De facto, o IRC iniciará um processo de descida progressiva da sua taxa ao longo de vários anos e, portanto, não houve choque de expectativas.
O imposto sobre o valor acrescentado (IVA) referente à restauração vai manter-se. Todos percebemos que o ministro da economia manda pouco e apenas quando o primeiro-ministro estão distraídos.
Os portugueses tinham a expectativa de que a apresentação pública do orçamento decorreria através de uma conferência de imprensa em que a ministra das finanças leria um texto corrido pontuado pela chamada de atenção para alguns diapositivos que ilustrariam graficamente as propostas apresentadas. Ao estilo gaspariano. E também aqui não foram defraudados.
Os portugueses excederam-se na sua capacidade de análise. Previram, de uma forma genérica, aquilo que o orçamento acabou por lhes trazer: a redução de salários na função pública (aproximadamente 10% a partir dos 600 euros), a redução da pensão de sobrevivência quando a soma das pensões e reformas excede os 2000 euros, o aumento do imposto sobre o rendimento de singulares (IRS) pelo facto de não serem actualizadas os respectivos escalões, e por diante.
Os portugueses já perceberam quais são os objectivos do governo e da troica. Resta esperar para ver o que fazem os portugueses. Não devemos esquecer que estas organizações também alimentam expectativas em relação àquilo que os portugueses farão. E a expectativa do governo e da troica é que os portugueses não façam nada.
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