Ontem, dia 27 de Julho, no programa “A propósito”, transmitido na SIC Notícias e conduzido por António José Teixeira, o ministro Miguel Poiares Maduro atribuía à opinião pública dos países do Norte da Europa a culpa pela ausência de uma abordagem integrada para a crise europeia atual.
Todos os dirigentes políticos europeus seriam assim reféns das suas opiniões públicas e, consequentemente, estariam à partida ilibados das suas responsabilidades pelo estado de decadência económica e social da União Europeia.
Independentemente da discussão que é necessário ter sobre a racionalidade da explicação apresentada, esta questão (São as opiniões públicas dos países do Norte da Europa responsáveis pela persistência na aplicação dos programas de austeridade financeira aos países do Sul?) conduz à revisitação do conceito de opinião pública.
Nos regimes democráticos contemporâneos que regulam sociedades complexas, torna-se impossível considerar a possibilidade de existência de uma democracia direta, que permita a participação de todos em todos os níveis e não apenas nos atos eleitorais periódicos.
A democracia é o regime político em que a participação dos cidadãos nos processos decisórios faz parte da sua construção. Contudo, é comumente aceite que existem muitas dúvidas sobre a racionalidade das aspirações da opinião pública, designadamente porque existem evidências sobre a vulnerabilidade para ocorrerem fenómenos de manipulação da mesma por minorias organizadas.
Uma alternativa à impossibilidade de participação do indivíduo é a consideração de que, embora individualmente poucos tenham possibilidades de participar diretamente, os cidadãos trocam informações e agem como grupo organizado na busca de seus interesses.
Se a minoria que ocupa os postos de efetiva tomada de decisão tiver acesso às posições coletivas para direcionar as decisões políticas, a abrangência da política será ampliada, pois, apesar de poucos estarem à frente das decisões políticas, eles serão balizados pelas informações que recebem do conjunto da sociedade. Quando isso se aplica aos temas de domínio público, o posicionamento conjunto dos integrantes da coletividade é chamado de Opinião Pública.
“Sendo assim, opinião pública é uma opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro agregado social, expressa de maneira livre por homens que estão fora do governo, mas que reclamam o direito de que suas opiniões possam influenciar ou determinar ações governamentais (Bobbio, 1998)”.
Por outro lado, grande parte da discussão sobre a opinião pública nas democracias contemporâneas deriva do fato de que ela possa ser considerada uma influência legítima nas decisões de governo.
A opinião pública contudo, forma-se a partir de uma complexa teia de ideias e ideologias que condicionam de forma decisiva a decisão política.
As opiniões públicas dos países do Norte da Europa nunca compraram a ideia da solidariedade transeuropeia e da construção de entidades supranacionais como a União Europeia e a Moeda Única.
Mas sejamos justos e admitir que os ideólogos e os líderes de opinião têm manipulado a explicação mais profunda das consequências da criação da União Europeia.
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