Pesquisar neste blogue

sábado, 11 de agosto de 2007

Grainne e Diarmat

Os pequenos momentos são de uma espera absurda. Todos os sistemas anti-sísmicos estão activados pela manhã: não ocorrerão surpresas. Os elementos telúricos foram transformados em algoritmos e não respiram. Tudo a postos: a inspiração foi controlada através de sistemas integrativos baseados no bom-senso. A porta fecha-se: mais um método de controlo.
Andar reflectido e convicto. Duas ou três frases curtas: as palavras são poucas, rápidas, timbradas. A voz torna-as sistematicamente ressoantes. Foneticamente puras.
Através da porta perspassa uma história de afectos enquadrados e circunscritos. As fronteiras físicas, químicas e límbicas construiram-se progressivamente.
Os sons habituais: vozes indistintas, máquinas comuns. Mais discursos curtos e vulgares.
A voz sobressai: singular. Olha-se pela janela, uma última vez, à procura de não sei bem o quê. Enquanto isso, Grainne aproxima-se e ultrapassa os sistemas, todos os sistemas. Mesmo aqueles que não tinham sido inventados. O sorriso: só aquele sorriso passa a contar a história. O inexplicável sorriso do corpo. Incompreensível.
Trocam-se os inconscientes e os desejos: incontroláveis. Resta a mais perversa de todas as criações humanas: a imaginação.
A história é antiga, como todas as histórias. A imaginação é complexa, atravessada de sentimentos e afectos. E tudo porque só existe a imaginação para construir o mundo.
Diarmat sabe que um dia a baragem de Assuã ruirá. O rio ficará em fúria. A fúria das águas do rio mudará a vida nas margens e criará os novos lagos. Os rios não podem ser represados para sempre. Os rios só podem mudar de leito.