"Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."
O mundo suportado por uns ombros é uma ideia.
Confortável e sem esforço.
O momento em que acaba o amor é uma sequência de ideias.
Desconfortável . E sem perdão.
"... Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo."
A troca do amor é conjugada no pretérito.
Não existem tempos do nada que não tem verbos.
Amor sem objecto fica destituído.
"Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?"
Amar entre as criaturas,
é esperar o instante.
à sorrelfa: uma subtilidade anódina, niilista; amar.