Na valorização relativa das coisas, o pensamento politicamente correcto manda que estabeleçamos a seguinte ordenação: os actos valem mais do que as ideias, as ideias valem mais do que as sintaxes, as sintaxes mais do que as palavras.
Não concordo. Existem associações de palavras e sintaxes que exprimindo a ideia (até a realidade, a verdade dos factos) a ultrapassam em força e conteúdo. A verdade é mais forte em palavras do que no interior de um pensamento. E torna-se devastadora quando as palavras assumem determinada sintaxe.
A ideia pode existir sem palavras. As palavras não existem sem ideias. Mas as ideias transportadas pelas palavras podem ser extraordinariamente radicais. Julgo, que depois de filtradas pelas palavras e pelas sintaxes, as ideias se tornam diferentes, mais distintas, mais eloquentes, mais violentas, mais impiedosas.
Há ideias que nunca deveriam ter assumido o contorno das palavras e das sintaxes: não daríamos por elas. É uma forma de neo-platonismo. Algumas revoluções não foram feitas porque não geraram as palavras mais adequadas para interpretar as ideias. Outras aconteceram mais precocemente e falharam porque as palavras assumiram uma violência desproporcionada às ideias que transportavam.
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