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terça-feira, 30 de abril de 2019

A política portuguesa parece que é diferente da política europeia. Não existem partidos populistas com implantação efetiva. Fazemos coligações ou, pelo menos, temos governos com apoio parlamentar orientado para a obtenção de determinadas metas (ex.: aprovação do orçamento). A xenofobia existe mas a pressão sobre as relações sociais não é, por enquanto, disruptiva.

E, contudo, começam a despontar na sociedade portuguesa fenómenos novos cuja matriz é pouco conhecida. Um desses exemplos são os sindicatos independentes das centrais sindicais (CGTP e UGT) e que têm promovido greves e protestos: enfermeiros, estivadores, juízes, motoristas de materiais perigosos.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O dia 25 de abril de 2019

Há 45 anos, a madrugada acordou cedo. Portugal estava atrasado para a História. Separação com meio século. Uma tragédia.

Em 25 de abril de 1974, os capitães encontraram repentinamente o povo nas avenidas, nas ruas, nas esquinas, nas praças. Os poemas, as canções, as fotografias e os filmes registaram um momento sublime. Foi o fim da Segunda Guerra Mundial num país que não participou no conflito. Tinha a sua guerra particular, em África, a guerra colonial.

Naquele dia, Portugal pontuou a História da Europa: fomos admirados por breves instantes e iniciámos o pouco provável exercício da democracia. A Grécia seguir-se-ia e derrubaria a ditadura dos coronéis em julho de 1974.   

A sociedade portuguesa discute, atualmente, a consagração das parcerias público-privadas na nova proposta de Lei de Bases da Saúde. Os partidos do centro-direita e o Presidente da República, a favor; o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda, contra; o Partido Socialista e o Governo a discutirem o assunto em função da tática política.

O Presidente da República iniciou uma visita à República Popular da China. Em 25 de abril de 1974, a China inspirava os movimentos maoístas da oposição e, lonqinquamente, emergia da Revolução Cultural. Hoje, começa a cimeira económica "Uma Faixa, Uma Rota", que pretende impulsionar a força estratégica da China no cenário mundial.

Em 25 de abril de 1974, Moçambique era uma das colónias africanas em guerra com a metrópole. Ontem, o ciclone tropical Kenneth começou a atravessar a província de Cabo Delgado, reiniciando o ciclo de destruição das infraestruturas e de vidas do ciclone Idai, que atingiu a Beira em março deste ano. O aquecimento global parece estar a contribuir para a ocorrência destes fenómenos meteorológicos extremos.

Há 45 anos estávamos em plena Guerra Fria. Portugal era membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO). E continua membro de pleno direito, com participação ativa em missões militares no Kosovo, na Somália ou na República Centro-Africana.   

Duarte Lima, antigo líder parlamentar do Partiso Social-Democrata, entregou-se hoje na cadeia de Caxias, para cumprir pena de prisão por burla praticada contra o Banco Português de Negócios. 

Portugal é uma democracia.    
   

sábado, 16 de março de 2019

Roxy


Morreste. Não te repetirás. Ficaste onde estiveste. Ao lado do meu lugar. Sentada perto de mim.
Não quero que tenhas estado por nós. Tenho a liberdade de pensar que foste feliz ao nosso lado.
O olhar humano que conquistaste à biologia está na minha memória. E a tua memória no teu olhar que desaparece para reaparecer pelo tempo afora; nos tempos que virão pelas memórias adentro.
Parecias feliz por fazeres parte, connosco, de uma família. Todos os dias assomo os teus pequenos gestos para justificar este meu pensamento egoísta, derivado de uma longínqua luta pela sobrevivência.  
Ergues-te com dificuldade crescente para encontrares um pequeno afago ou reconhecimento. Uma lenta afirmação de pertença por aquele afecto que merecias. Nunca violento, nunca definitivo, feito de um jeito miúdo e suplicante.
Todos os dias tínhamos o encontro pela manhã. Gulosa. Sem um latido. Muito convicta, com os passos que a tua fragilidade física permitia. Os anos e a gulodice pesavam-te num corpo que tinha sido irrequieto e cabriola. Minha cabriola. Disponível como nenhum ser humano.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Coletes amarelos em Portugal

No dia 21 de Dezembro de 2018, Portugal teve a sua manifestação dos coletes amarelos. 

As pessoas, sobretudo nas zonas urbanas, estavam receosas: iriam incumprir os deveres profissionais nas vésperas de um curto período de férias e a preparação das Festas Natalícias estava ameaçada.

A realidade efetiva era que, às greves (enfermeiros; ferroviários; estivadores) e aos boicotes (magistrados, bombeiros), juntavam-se agora os protestos inorgânicos. 

Os partidos, os movimentos políticos e os sindicatos colocaram-se a uma distância atenta, excepto a extrema-direita.

Jornalistas, comentadores, políticos e governantes declararam o fracasso da iniciativa. As evidências públicas e publicitadas eram esmagadoras.

Porque fracassaram os coletes amarelos portugueses? Porque não tinham uma organização, para além da disponibilizada pelas redes sociais, porque não existia um acontecimento recente e com impacto emocional que desencadeasse o levantamento popular, porque os portugueses já viveram pior em tempos recentes, porque as pessoas com experiência em movimentos semelhantes se afastaram.

Mas os motivos que podem fazer eclodir este tipo de movimentos existem na sociedade portuguesa e as condições objectivas e subjectivas podem juntar-se de forma súbita e inesperada.    
          

domingo, 9 de dezembro de 2018

Gilets Jaunes

A Jacquerie (1358), a Revolução Francesa (1789), o Maio de 68, os Gilets Jaunes (2018). Os franceses têm uma tradição de revoltas desencadeadas pela combinação de uma decisão emblemática  do poder e de uma rejeição emocional ao comportamento individual do(s) governante(s).

No caso do movimento dos  Gilets Jaunes foi o aumento do imposto sobre gasóleo e a antipatia pelas atitudes arrogantes do presidente Macron em relação aos franceses.

Mas a história da França (a história, no geral) não é um amontoado de analogias intemporais. A Revolução Francesa e o movimento dos Gilets Jaunes têm origens distintas.

Macron é, do ponto de vista ideológico, um liberal. É um liberal que tem a convição de que a França tem de reformar os fundamentos essenciais da sua sociedade - com prejuízo de camadas importantes da população - , contribuindo para o reforço do projeto europeu.

Por outro lado, Macron reconhece a necessidade da transição energética com o objetivo de descarbonizar o tecido económico.

Este enquadramento reformista exigente não pode ser realizado quando recai sobre o líder na nação a suspeita de que está do lado dos poderosos, exatamente daqueles que serão menos atingidos pelas alterações que será necessário incluir na estrutura social e económica da França.              

      

domingo, 25 de novembro de 2018

As pequenas afirmações dos ministros da República Portuguesa

Disse a Ministra da Cultura, presente na Feira Internacional do Livro de Guadalajara (México), que “uma coisa óptima de estar em Guadalajara há quatro dias é que não vejo jornais portugueses.” 

A resposta foi desencadeada por um pedido de opinião sobre a ideia que está a ser trabalhada por deputados do partido socialista no sentido de adoptarmos o modelo das corridas de touros à americana.  

Esta feira é a segunda mais importante a nível mundial. Portugal é o convidado de honra deste ano e ocupa um pavilhão de 1200 metros quadrados. 

A Ministra da Cultura está focada na civilização. Não lê os jornais portugueses nem, aparentemente, tem interesse em lê-los. Deverá estar a ler os jornais mexicanos para beber, em tragos, civilização suficiente que dê para os próximos anos ou meses. Era de esperar que tirasse umas férias da falta de civilização revelada pelos lusitanos. 

Presume-se que os assessores também a acompanharam e também não têm lido os jornais portugueses. Ou então os assessores lêem os jornais portuguses mas nem se atrevem a transmitir as notícias qu estes divulgam. 

Na prática, a Ministra da Cultura e os seus assessores estão de férias. Como não é verosímel que tivessem tirado umas férias limitadas ao tema das touradas, estenderam o âmbito das férias. Aqui foram mais uma vez civilizados: não censuraram os temas. Trataram todos os assuntos por igual. As touradas não podem assim queixar-se de descriminação negativa.           

À volta do futebol, sem moderação

É inquestionável que a seleção portuguesa de futebol tem obtido alguns sucessos nas últimas décadas. Tem participado de forma sistemática em quse todas as grandes competições internacionais e é campeã europeia.    

Mas a exploração dos temas periféricos ao futebol (ex.: a vida íntima dos futebolistas; as disputas de poder dentro dos principais clubes de futebol; os casos de corrupção associados às elites dos dirigentes) têm vindo a ocupar um espaço mediático hipertrofiado.    

Choro

O choro (chorinho) é um género de música popular (instrumental) brasileira, que surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX.
A composição instrumental dos primeiros grupos de choro era baseada na trinca flauta, violão e cavaquinho - a esse núcleo inicial do choro também se chamava pau e corda, por serem de ébano as flautas usadas -, mas com o desenvolvimento deste género musical, outros instrumentos de corda e sopro foram incorporados.

A improvisação é condição básica do bom chorão, termo pelo qual passou a ser conhecido o músico integrante do choro, e requer uma alta virtuosidade de seus intérpretes, cuja técnica de composição não deve dispensar o uso de modulações imprevistas e armadas com o propósito de desafiar e a capacidade ou o senso polifónico dos acompanhantes. Além disso, admite uma grande variedade na composição instrumental de cada conjunto e comporta a participação de um grande número de participantes, sem prefixar seu número.

Os primeiros conjuntos de choro surgiram por volta da década de 1870, nascidos nas biroscas do bairro Cidade Nova e nos quintais dos subúrbios cariocas. O flautista e compositor Joaquim António da Silva Calado, os pianistas Ernesto Nazaré e Chiquinha Gonzaga, e o maestro Anacleto de Medeiros compuseram quadrilhas, polcas, tangos, maxixes, xotes e marchas, estabelecendo os pilares do choro e da música popular carioca da virada do século XIX para o século XX, que com a difusão de bandas de música e do rádio foi ganhando todo o território nacional. Herdeiro de toda essa tradição musical, Pixinguinha consolidou o choro como género musical, levando o virtuosismo na flauta e aperfeiçoando a linguagem do contraponto com seu saxofone e organizou inúmeros grupos musicais, tornando-se o maior compositor de choro.

Tido como a primeira música popular urbana típica do Brasil, a história está associada à chegada, em 1808, da Família Real portuguesa ao Brasil. Promulgada capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1815, o Rio de Janeiro passou, então, por uma reforma urbana e cultural, quando foram criados cargos públicos. Com a corte portuguesa vieram instrumentos de origem européia como o piano, clarinete, violão, flauta, bandolim e cavaquinho, bem como seus instrumentistas.Com esses viajantes, chegou ao Brasil a música de dança de salão européia, como a valsa, a quadrilha, a mazurca, a modinha, a schottish e principalmente a polca, que viraram moda nos bailes daquela época.

A reforma urbana, os instrumentos e as músicas estrangeiras, juntamente com a abolição do tráfico de escravos no Brasil em 1850, foram condições históricas para o surgimento do choro, já que possibilitou a emergência de novos ofícios para as camadas populares. Nesse contexto, tendo como origens estilísticas o lundu, ritmo de inspiração africana à base de percussão, com gêneros europeus, nasceu o choro no Rio de Janeiro, por volta de 1870. Esses grupos de instrumentistas populares, a quem se daria mais tarde o nome de chorões, eram oriundos de segmentos da classe média baixa da sociedade carioca, sendo em sua grande maioria modestos funcionários de repartições públicas - como da Alfândega, dos Correios e Telégrafos e da Estrada de Ferro Central do Brasil - cujo trabalho lhes permitiam uma boemia regular, e geralmente moradores da Cidade Nova. Sem muito compromisso e sem precisar tocar por dinheiro, essas pessoas passaram a formar conjuntos para tocar de "ouvido" essas músicas, que juntamente com alguns ritmos africanos já enraizados na cultura brasileira, como o batuque e o lundu, passaram a ser tocadas de maneira abrasileirada pelos músicos que foram então batizados de chorões. Inicialmente, eles se reuniam aos domingos nos chamados pagodes no fundo dos quintais dos subúrbios cariocas ou nas residências da Cidade Nova. Com isso, se tornaram os principais canais de divulgação do estilo para o povo. Um dos preceitos desses pagodes ou tocatas domingueiras era uma mesa farta em alimentos e bebidas.

As mais antigas referências a esses grupos de músicos mencionam o flautista Calado como o iniciador e organizador desses primeiros conjuntos. Como era professor da cadeira de flauta do Conservatório Imperial, Calado teve grande conhecimento musical e reuniu em torno de si os melhores músicos da época, que tocavam por simples prazer e descompromisso de fazer música. O conjunto instrumental "O Choro de Calado" costumava se reunir sem ideia prévia quanto a composição instrumental ou quanto ao número de figurantes de cada grupo. Foi também ele o pioneiro em grafar a palavra choro no local destinado ao gênero em uma de suas partituras - a da polca "Flor Amorosa" -, até então, os compositores se limitavam a indicar, como gênero, os ritmos tradicionais. A polca "Flor Amorosa", composta por Calado em 1867 é considerada a primeira composição do gênero. Desse conjunto fez parte Viriato Figueira, seu aluno e amigo e também sua amiga, a maestrina Chiquinha Gonzaga, uma pioneira como a primeira chorona, compositora e pianista do gênero.

Em 1877, Chiquinha Gonzaga compôs "Atraente", e em 1897, "Gaúcho" ou "Corta-Jaca", grandes contribuições ao repertório do género, entre outras composições, como "Lua Branca". O choro era considerado apenas uma maneira mais sincopada (pela influência do lundu e do batuque) de se interpretar aquelas músicas, portanto recebeu fortes influências, porém aos poucos a música gerada sob o improviso dos chorões foi perdendo as características dos seus países de origem e os conjuntos de choro proliferaram na cidade, estendendo-se ao Brasil.

A partir dos primeiros anos da República, há menção de outros conjuntos de chorões incorporando outros instrumentos de cordas, bem como a utilização de instrumentos de banda com a função de solistas ou concertante dentro dos grupos. Eram os casos do bandolim, da bandola, da bandurra, do bombardino, do bombardão, da clarineta, do flautim, do oficlide, do pistom, do saxofone e do trombone. Era a participação ocasional ou improvisada desses instrumentos que determinava a função de cada um no conjunto musical, que era determinada de acordo com a capacidade do executante, tanto se incumbindo do solo como do contracanto ou mesmo as duas coisas alternadamente. Constituídos de polcas, xotes, tangos e valsas, o repertório era assinado por autores brasileiros, em sua maioria, os próprios conjuntos. Essas primeiras composições de choro com características próprias foram compostas por Joaquim Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Ernesto Nazareth, dentre outros.

O virtuoso da flauta Patápio Silva, considerado o sucessor de Joaquim Calado, ficou famoso por ser o primeiro flautista a fazer um registro fonográfico. Autor de "Sons de Carrilhões", o violonista João Pernambuco trouxe do sertão sua forma típica de canção e enriqueceu o género com elementos regionais, colaborando para que o violão deixasse de ser um mero acompanhante na música popular. Músico de trajetória erudita e ligado à escola européia de interpretação, Ernesto Nazareth compôs "Brejeiro" (1893), "Odeon" (1910) e "Apanhei-te Cavaquinho" (1914), que romperam a fronteira entre a música popular e a música erudita, sendo vitais para a formação da linguagem do gênero.

Um dos maiores compositores da música popular brasileira, Pixinguinha contribuiu diretamente para que o choro encontrasse uma forma musical definitiva. Também tenor, arranjador, saxofonista e flautista, ele formou em 1919 o conjunto Oito Batutas, formado por Pixinguinha na flauta, João Pernambuco e Donga no violão, dentre outros músicos. Fez sucesso entre a elite carioca, tocando maxixes e outros choros. Quando compôs "Carinhoso", entre 1916 e 1917 e "Lamentos" em 1928, que são considerados dois dos choros mais famosos, Pixinguinha foi criticado e essas composições foram consideradas como tendo uma inaceitável influência do jazz. Outras composições de Pixinguinha, entre centenas, são "Rosa", "Vou vivendo", "Lamentos", "1 a 0", "Naquele tempo" e "Sofres porque Queres".

Na década de 1920, o maestro Heitor Villa-Lobos compôs uma série de 16 composições dedicadas ao Choro, mostrando a riqueza musical do gênero e fazendo-o presente na música erudita. A série é composta de 14 choros para diversas formações, um Choro Bis e uma Introdução aos Choros. Se a série tem o título "Choros", individualmente o nome de cada composição vem sempre no singular. O Choro nº 1 foi composto para violão solo.

Existem também choros para conjuntos de câmara e orquestra. A peça Choro nº 13, de Heitor Villa-Lobos, foi composta para duas orquestras e banda. Já o Choro nº 14 é para orquestra, coro e banda. Uma das composição mais conhecida e executada dentre os choros orquestrais de Villa-Lobos é o Choro nº 10, para coro e orquestra, que inclui o tema "Rasga o Coração" de Catulo da Paixão Cearense. Devido à grande complexidade e à abrangência dos temas regionais utilizados pelo compositor, a série é considerada por muitos como uma das suas obras mais significativas.

Também a partir da década de 1920, impulsionado pelas gravadoras de discos e pelo advento do rádio, o choro fez sucesso nacional com o surgimento de músicos como Luperce Miranda e do pianista Zequinha de Abreu, autor de Tico-Tico no Fubá, além de grupos instrumentais que, por dedicar-se à música regional, foram chamados de regionais, como o Regional de Benedito Lacerda, que tiveram como integrantes Pixinguinha e Altamiro Carrilho, e Regional do Canhoto, que tiveram como integrantes Altamiro e Carlos Poyares.

Ocorreu uma revitalização do género na década de 1970. Em 1973, uniram-se o Conjunto Época de Ouro e Paulinho da Viola no show Sarau. Foram criados os Clubes do Choro em Brasília, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, Goiânia e São Paulo, dentre outras cidades. Surgiram grupos jovens dedicados ao gênero, como Galo Preto e Os Carioquinhas. O novo público e o novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos chorões, como Altamiro Carrilho, Copinha e Abel Ferreira, além de revelar novos talentos, como os bandolinistas Joel Nascimento e Déo Rian e o violonista Rafael Rabello.

O choro entra no terceiro século da sua existência, com uma bagagem de mais de 130 anos, completamente firmado como um dos principais géneros musicais do Brasil. São milhares de discos gravados e centenas de chorões que marcaram presença. O choro além de ser um gênero musical rico e complexo, é também um fenômeno artístico, histórico e social.


sábado, 11 de março de 2017

Donald Trump é o 45.º presidente dos Estados Unidos. A sua eleição foi uma surpresa. O mundo sentir-se-ia mais seguro se os americanos quisessem manter o curso da sua história recente. Tinham tido um negro como presidente, agora seria uma mulher. Provavelmente depois, e sempre numa atitude formalmente desafiadora, uma jovem estrela de Silicon Valley. 
Mas a história não tem um plano habitável pelas previsões humanas.
Juntaram-se as elites académicas e intelectuais da extrema-direita americana, os marginalizados pela globalização, os conservadores do costume, os capitalistas dos sectores económicos tradicionais e uma estrela dos reality shows. Vendo bem, a estrela dos reality shows serviu apenas para tornar invisíveis as contradições profundas entre as forças sociais que o apoiaram aberta ou tacitamente.      

sábado, 7 de janeiro de 2017

O homem muito imperfeito

Mário Soares morreu hoje que é o dia 7 de Janeiro de 2017. Um dia de Inverno com um sol completo. Um sol de Lisboa.
Nunca foi uma figura política consensual: muitos de entre nós, os portugueses, concordaram com Mário Soares, quase nenhum sempre, muitos discordaram, também muitos o defenderam, outros tantos o vituperaram. Esta é a melhor homenagem que podemos dirigir a um democrata.
Neste dia de Inverno com um sol completo, Portugal perdeu um estadista, alguém que pensou um futuro diferente para o país atrasado, analfabeto e marginalizado dos anos sessenta.
Que depois acreditou na democracia representativa parlamentar e no fim da presença colonial em África.
Um político que acreditou no projecto da integração europeia mas desconfiou da denominada terceira via da social democracia e do socialismo europeus. Um político que denunciou a agressividade do neo-liberalismo na fase atual do capitalismo mundial.
Um homem muito imperfeito, com um comprometimento inabalável com a liberdade e com um gosto enorme por Portugal e pela vida.
Faltará, a partir de agora em Portugal, a voz irreverente e desafiadora de Mário Soares.     

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

As ameaças à Europa



A Europa sente-se ameaçada. Ameaçada pelos grupos terroristas de inspiração islâmica (Estado Islâmico, Al-Qaeda), pelos imigrantes provenientes de países do Médio Oriente (Síria, Iraque) e de África (Somália, Líbia). E, na verdade, tem motivos para esse sentimento.
Em primeiro lugar, a diversidade política, económica e cultural dos países europeus não permite uma atitude estratégica comum: a União Europeia não tem instrumentos que permitam uma intervenção conjunta; a Ucrânia, a Rússia, os países do Cáucaso e a Turquia não fazem parte, por opção própria e por falta de visão estratégica da União Europeia, deste continente.
Em segundo lugar, as formas de terrorismo (fuzilamentos em massa, atentados suicidas, explosões e tomada de reféns) exibidas mais recentemente - série de ataques terroristas ocorrido na noite de 13 de novembro de 2015 em Paris e no subúrbio de Saint-Denis, em França – nunca tinham sido observadas no território da Europa Ocidental. Em rigor, tratou-se da transplantação de formas de terrorismo utilizadas em outras regiões (Médio Oriente, África) para as ruas de uma das capitais mais importantes da Europa. Este acontecimento introduziu uma componente adicional de vulnerabilidade nas sociedades europeias e confrontou os cidadãos com um conjunto de perigos aleatórios cujo manuseamento implicará, necessariamente, a limitação, objetiva ou subjetiva, das liberdades individuais.       
Em terceiro lugar, as sociedades europeias, as suas opiniões públicas, os governos e as autoridades supranacionais demonstram dificuldade na compreensão dos novos fenómenos sociais e históricos que surgem a partir do Médio Oriente: um grupo terrorista transformado num estado – o Estado Islâmico-, estados fracassados com fronteiras herdadas da época colonial – Síria, Iraque, Líbano, Líbia-, grupos políticos cuja ideologia mergulha na história remota de uma religião – o brilhantismo dos califados islâmicos do século VII.
Em quarto lugar, a Europa é pressionada por um fluxo imigratório proveniente da região do Médio Oriente e da África, e assume uma atitude ambivalente: não está confortável em admitir de forma brusca milhões de refugiados no seu tecido social, também em crise demográfica e social, mas não pode abandonar, sem consequências profundas, a defesa dos direitos humanos, incluindo o direito a uma vida digna para todas as pessoas, independentemente da sua religião, da sua condição social ou da sua origem étnica.
Em quinto lugar, a Europa declara-se formalmente em guerra contra algumas entidades no Médio Oriente – França em relação ao Estado Islâmico- conquanto muitos dos autores dos atentados terroristas são cidadãos europeus – muitos pertencendo à segunda ou terceira geração de imigrantes magrebinos em França. O processo de radicalização islâmica (jihadista) destes cidadãos ocorre rapidamente e parece vir dar resposta a uma situação de revolta incongruente vivida e alimentada nos subúrbios das grandes cidades como Paris ou Londres.
Em sexto lugar, as opiniões públicas europeias não têm uma visão informada sobre a origem do Estado Islâmico e dos outros grupos terroristas que partilham a cena geoestratégica no Médio Oriente. Desta forma, a análise dos fenómenos políticos, religiosos e militares é deficiente e contribui para a desorientação geral dos europeus e a potenciação da sensação de ameaça que se assenhoreou dos europeus.

domingo, 29 de novembro de 2015

O novo governo de Portugal




O governo de Portugal é suportado por um acordo improvável entre o ps, o pcp, o be e o pev. A esquerda está feliz: expulsou a nefanda coligação da direita e vingou-se de Cavaco. Cavaco insiste que ainda tem capacidade para assombrar a vida política e a vida de António Costa. As ameaças dos personagens em estertor não são vãs.   
Com o novo governo criou-se uma dinâmica nova na vida política portuguesa.
O governo está alojado na esquerda do denominado arco da governação (ps, psd, cds/pp) e, portanto, esta construção do pós-25 de novembro de 1975 persistirá, ainda, na sociedade portuguesa.   
As políticas financeiras já perderam em relação às políticas económicas e o novo ministro das finanças fala mais de macroeconomia que de finanças públicas. O foco de Mário Centeno é bem distinto do foco de Vitor Gaspar. Novo ambiente na Europa e novo olhar para Portugal.
No resto, temos ministros e secretários de estado vindos do centro político, alguns com marca evidente dos governos de José Sócrates, outros com ausência completa de experiência política a tentar surpreender os grupos de pressão e os interesses do costume (educação, justiça).
Quando o governo apresentar o seu programa na Assembleia da República assumirá a tentativa de resolução de pelo menos quatro questões fundamentais: a privatização da TAP, a venda do Novo Banco, a disponibilidade de médicos para o atendimento de urgência durante as festividades do Natal e, a mais importante de todas, a aprovação do orçamento do Estado.