A ação política efetiva
de uma formação partidária deverá decorrer da análise da realidade da economia
e da sociedade e da inspiração decorrente da sua história.
O
partido socialista tem baseado a sua intervenção política na aplicação das
regras da destreza política. Abandonado pela assepsia ideológica dos partidos
socialistas e sociais-democratas europeus, o partido socialista encontrou um
paradeiro no aproveitamento dos erros dos adversários.
Após
a maioria absoluta de 2005, a crise financeira de 2008 contribuiu para uma
vitória minoritária do partido socialista em 2009 e para a deterioração
subsequente das condições de governação que culminou com a intervenção da
troica em 2011.
A
chegada ao poder da coligação de centro-direita e da troica decorreu de uma
derrota profunda das teses do partido socialista e do seu afastamento
convulsivo do poder por via eleitoral.
A
reconstituição programática e política do partido foi mitigada, mais uma vez,
pela adesão às regras da destreza política, como método para reconquistar
rapidamente o poder, e pelo esgotamento da proposta política da
social-democracia europeia.
A
única maioria absoluta do partido socialista (José Sócrates, 2005) foi
conseguida pela conquista de maior espaço no eleitorado do centro, desiludido
com a fuga de Durão Barroso e com a antilogia de Santana Lopes.
À
esquerda, a penetração do partido socialista foi sempre limitada. Apesar da
erosão do eleitorado do partido comunista ao longo dos anos, sobretudo desde
1979, este espaço tem-se mantido significativo, ao ponto de constituir uma
barreira à constituição de alternativas políticas maioritárias. Uma análise
histórica, mesmo que superficial, revelará que o partido socialista nunca se
conseguiu afirmar como um “partido de(os) trabalhadores”; mesmo que estes, na
sua maior parte, não se reconheçam no partido comunista ou no bloco de
esquerda, existe uma fatia significativa que, apelando às memórias antigas e
recentes, desconfia vitalmente de um partido fundado em 1972, que se aliou
taticamente à direita para inverter o “sentido mais revolucionário” do 25 de
abril, que aplicou o 1.º (1977) e 2.º (1983) programas de ajustamento
financeiro em Portugal, que reiniciou as políticas de austeridade em 2005, embora
ainda de forma mitigada e apenas como instrumento para cumprimento dos défices
públicos e dos limites da dívida pública e que, no final, pediu a intervenção
da troica.
O
partido socialista é um partido fundador da democracia mas nunca
verdadeiramente esteve comprometido com a social-democracia histórica. Este traço contribui, permanentemente, para a ausência de alternativas políticas e de governo, à
esquerda.
E, nestas coisas, uma revisitação dos conceitos teóricos e da história dos movimentos políticos socialistas e sociais-democratas é sempre de bom proveito.
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