Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O partido socialista e a revisitação da sua história



A ação política efetiva de uma formação partidária deverá decorrer da análise da realidade da economia e da sociedade e da inspiração decorrente da sua história.

O partido socialista tem baseado a sua intervenção política na aplicação das regras da destreza política. Abandonado pela assepsia ideológica dos partidos socialistas e sociais-democratas europeus, o partido socialista encontrou um paradeiro no aproveitamento dos erros dos adversários.

Após a maioria absoluta de 2005, a crise financeira de 2008 contribuiu para uma vitória minoritária do partido socialista em 2009 e para a deterioração subsequente das condições de governação que culminou com a intervenção da troica em 2011.

A chegada ao poder da coligação de centro-direita e da troica decorreu de uma derrota profunda das teses do partido socialista e do seu afastamento convulsivo do poder por via eleitoral.

A reconstituição programática e política do partido foi mitigada, mais uma vez, pela adesão às regras da destreza política, como método para reconquistar rapidamente o poder, e pelo esgotamento da proposta política da social-democracia europeia. 

A única maioria absoluta do partido socialista (José Sócrates, 2005) foi conseguida pela conquista de maior espaço no eleitorado do centro, desiludido com a fuga de Durão Barroso e com a antilogia de Santana Lopes.

À esquerda, a penetração do partido socialista foi sempre limitada. Apesar da erosão do eleitorado do partido comunista ao longo dos anos, sobretudo desde 1979, este espaço tem-se mantido significativo, ao ponto de constituir uma barreira à constituição de alternativas políticas maioritárias. Uma análise histórica, mesmo que superficial, revelará que o partido socialista nunca se conseguiu afirmar como um “partido de(os) trabalhadores”; mesmo que estes, na sua maior parte, não se reconheçam no partido comunista ou no bloco de esquerda, existe uma fatia significativa que, apelando às memórias antigas e recentes, desconfia vitalmente de um partido fundado em 1972, que se aliou taticamente à direita para inverter o “sentido mais revolucionário” do 25 de abril, que aplicou o 1.º (1977) e 2.º (1983) programas de ajustamento financeiro em Portugal, que reiniciou as políticas de austeridade em 2005, embora ainda de forma mitigada e apenas como instrumento para cumprimento dos défices públicos e dos limites da dívida pública e que, no final, pediu a intervenção da troica.

O partido socialista é um partido fundador da democracia mas nunca verdadeiramente esteve comprometido com a social-democracia histórica. Este traço contribui, permanentemente, para a ausência de alternativas políticas e de governo, à esquerda.

No contexto da União Europeia a oposição à opção ideológica liberal não assumiu, até agora, a forma de uma solução governativa inteira: Hollande desistiu de mitigar a austeridade e o Syriza da Grécia está em plena prova de fogo. Para o partido socialista, esta circunstância significa uma pressão adicional sobre o projeto de governação que está a construir. 

E, nestas coisas, uma revisitação dos conceitos teóricos e da história dos movimentos políticos socialistas e sociais-democratas é sempre de bom proveito.     

 

Sem comentários: