Chegámos à lista VIP (very importante person) vindos dos
incumprimentos contributivos de Passos Coelho à segurança social e ao fisco (caso
Tecnoforma).
O cenário de fundo
inclui, persistentemente, mais alguma informação sobre as transações milionárias
de José Sócrates recorrendo a uma suposta interposta pessoa (o testa-de-ferro)
ou as dúvidas sobre a autoria do livro “A confiança no mundo – sobre a tortura
em democracia”.
Viemos parar a este
lugar na história, guiados pela ausência de ambição.
O caso é o seguinte: a “lista
VIP” da autoridade tributária (AT) tinha quatro nomes: Cavaco Silva, Passos
Coelho, Paulo Portas e Paulo Núncio. Quando um funcionário da AT consultasse a
informação referente aos listados, contida na base de dados do fisco, um alarme
digital dispararia avisando da violação do direito de privacidade.
Uma história tem sempre
várias versões e as conclusões morais são ainda menos consensuais.
Uma das versões diz-nos
que um grupo organizado de funcionários da AT decidiu vasculhar o currículo
fiscal de Passos Coelho daí extraindo informação para acusações políticas. Em
defesa do bom nome do primeiro-ministro e antecipando o risco desta atividade
atingir outros políticos foi criada uma “lista VIP”. Esta lista foi criada pela
AT sem conhecimento da tutela (secretário de estado). A independência da AT
face ao poder político é um bem que este governo preserva de forma prioritária.
Pelos defensores de
outra versão, o governo, através secretário de estado Paulo Núncio, criou uma “lista
VIP” quebrando o princípio constitucional da igualdade dos cidadãos perante a
lei, com o objetivo de proteger um grupo de figuras políticas do escrutínio
público.
Existem alguns
portugueses que pensam que foi o último governo de José Sócrates que criou a “lista
VIP”, nos idos de 2011, para evitar a consulta dos seus dados fiscais. E foi
este governo que democratizou esta lista alargando-a a mais três figuras políticas
para além do primeiro-ministro.
É tentador pensar que a
“lista VIP” foi criada por influência moral e material de Maria Luís Albuquerque
para comprometer Passos Coelho e aumentar a sua cotação como futura líder do
psd.
E também não
desdenharia pensar que a especulação inspiradora de alguém colocaria Cavaco
Silva como o personagem que exigiu ao secretário de estado e ao
primeiro-ministro a criação de uma “lista VIP” habituado como está a ser visado
em tudo quanto é pequena imoralidade.
Uma pequena sugestão:
nenhum cidadão português pode ter os seus dados fiscais devassados por quem
quer que seja, designadamente pelos funcionários da AT. A consulta destes dados
deverá ser permitida em casos de investigação judicial.
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