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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

As ameaças à Europa



A Europa sente-se ameaçada. Ameaçada pelos grupos terroristas de inspiração islâmica (Estado Islâmico, Al-Qaeda), pelos imigrantes provenientes de países do Médio Oriente (Síria, Iraque) e de África (Somália, Líbia). E, na verdade, tem motivos para esse sentimento.
Em primeiro lugar, a diversidade política, económica e cultural dos países europeus não permite uma atitude estratégica comum: a União Europeia não tem instrumentos que permitam uma intervenção conjunta; a Ucrânia, a Rússia, os países do Cáucaso e a Turquia não fazem parte, por opção própria e por falta de visão estratégica da União Europeia, deste continente.
Em segundo lugar, as formas de terrorismo (fuzilamentos em massa, atentados suicidas, explosões e tomada de reféns) exibidas mais recentemente - série de ataques terroristas ocorrido na noite de 13 de novembro de 2015 em Paris e no subúrbio de Saint-Denis, em França – nunca tinham sido observadas no território da Europa Ocidental. Em rigor, tratou-se da transplantação de formas de terrorismo utilizadas em outras regiões (Médio Oriente, África) para as ruas de uma das capitais mais importantes da Europa. Este acontecimento introduziu uma componente adicional de vulnerabilidade nas sociedades europeias e confrontou os cidadãos com um conjunto de perigos aleatórios cujo manuseamento implicará, necessariamente, a limitação, objetiva ou subjetiva, das liberdades individuais.       
Em terceiro lugar, as sociedades europeias, as suas opiniões públicas, os governos e as autoridades supranacionais demonstram dificuldade na compreensão dos novos fenómenos sociais e históricos que surgem a partir do Médio Oriente: um grupo terrorista transformado num estado – o Estado Islâmico-, estados fracassados com fronteiras herdadas da época colonial – Síria, Iraque, Líbano, Líbia-, grupos políticos cuja ideologia mergulha na história remota de uma religião – o brilhantismo dos califados islâmicos do século VII.
Em quarto lugar, a Europa é pressionada por um fluxo imigratório proveniente da região do Médio Oriente e da África, e assume uma atitude ambivalente: não está confortável em admitir de forma brusca milhões de refugiados no seu tecido social, também em crise demográfica e social, mas não pode abandonar, sem consequências profundas, a defesa dos direitos humanos, incluindo o direito a uma vida digna para todas as pessoas, independentemente da sua religião, da sua condição social ou da sua origem étnica.
Em quinto lugar, a Europa declara-se formalmente em guerra contra algumas entidades no Médio Oriente – França em relação ao Estado Islâmico- conquanto muitos dos autores dos atentados terroristas são cidadãos europeus – muitos pertencendo à segunda ou terceira geração de imigrantes magrebinos em França. O processo de radicalização islâmica (jihadista) destes cidadãos ocorre rapidamente e parece vir dar resposta a uma situação de revolta incongruente vivida e alimentada nos subúrbios das grandes cidades como Paris ou Londres.
Em sexto lugar, as opiniões públicas europeias não têm uma visão informada sobre a origem do Estado Islâmico e dos outros grupos terroristas que partilham a cena geoestratégica no Médio Oriente. Desta forma, a análise dos fenómenos políticos, religiosos e militares é deficiente e contribui para a desorientação geral dos europeus e a potenciação da sensação de ameaça que se assenhoreou dos europeus.

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