Escrever em Junho para colher os
acontecimentos em Julho. A Alemanha é campeã do mundo de futebol. Na final
venceu a seleção da Argentina, de forma merecida.
As eleições primárias do partido
socialista continuam a pontuar o espaço mediático. Uma comissão eleitoral
definiu as regras e os dois candidatos mantêm agora uma demanda pelos votos dos
militantes e dos simpatizantes mais ativos. É um exercício de preparação para
António Costa com vista às eleições legislativas. O exercício está subordinado
ao tema genérico “como construir um discurso político alternativo que não seja
revolucionário nem seguidista do diretório europeu”.
A crise do momento é, contudo, a crise
do grupo espírito santo, que arrastou para o seu redemoinho, o banco
espírito santo e contaminou (e foi por sua vez contaminada) pela queda de Ricardo
Espírito Santo Salgado.
Concentremo-nos nas interpretações discutidas
no espaço público (mediático, parlamentar) que procuram encontrar as causas e as consequências da
crise que atingiu estas instituições financeiras e esta família com longa
tradição na vida política e económica portuguesa.
Há quem considere que a crise do grupo
espírito santo está circunscrita e não contaminará o banco, não tendo
verdadeiro impacto sobre a economia e sobre o equilíbrio das finanças públicas.
Mesmo que existam imparidades, a instituição bancária tem uma “almofada de
segurança” própria e outra concedida ao estado português pela troica, que permitirão
absorver as ondas de impacto sistémicas. Esta teoria é sustentada por inúmeros
factos, entre os quais o aumento da notação de risco (rating) da dívida pública, pela Moody’s.
Em relação à detenção de
Ricardo Espírito Santo Salgado assume-se que, de futuro, os partidos políticos
e restantes forças políticas deverão ter mais cuidado na forma como ocorre a
polinização cruzada com os grupos económicos e financeiros.
Esta é a análise de um grupo de críticos que vê em Pedro Passos Coelho e nesta
maioria, as forças políticas que criarão uma relação nova entre economia e
política, separando os domínios: o estado retirar-se-á de todas as atividades
económicas e passará a exercer o papel de regulador.
Outros apoiam-se numa posição do tipo “nós,
avisamos!” ou “esta crise é a crise do capitalismo financeiro na fase da globalização”,
eu acrescentaria pós-imperialista, em que o nepotismo e a corrupção das elites
financeiras e políticas, portuguesas e estrangeiras (angolana, chinesa, americana)
arruinaram o país.
Muitas outras variantes às duas posições
anteriormente descritas podem ser encontradas em jornais, revistas, blogues, na
televisão e na rádio, em livros recém-chegados aos escaparates (e em outros que
se lhe seguirão). E, provavelmente, arriscam estar ou vir a estar corretas,
sendo mais ou menos confirmadas pela análise histórica.
Limito-me a olhar através de uma
eventual nova perspetiva, a de um nacionalismo algo deficitário.
A crise financeira desencadeada pelo
grupo (e pelo banco) espírito santo é a contrapartida privada da crise da
dívida soberana portuguesa, que obrigou à intervenção da comissão europeia,
banco central europeu e fmi.
No final, aquilo que desfila ante os
nossos olhos é o endividamento apocalíptico da economia portuguesa, resultante
de um modelo de crescimento e desenvolvimento que não está (esteve) adaptado às
novas realidades históricas. Não devemos, apenas, rejubilar com a queda dos
grupos económicos e das elites políticas portuguesas.
O grupo espírito santo está a desmoronar-se,
não pela ação política de forças progressistas, mas pela perda de competitividade
no mercado financeiro global. Este acontecimento não é consequência de uma
estratégia política interna, mas é sim, uma imposição decorrente da ação de
forças políticas e económicas externas. Não tenhamos ilusões: sendo nós uma
economia de mercado, o desaparecimento de grupos económicos, a aquisição maioritária
de outros e o desaparecimento de centros estratégicos nacionais, associados a
um estado que se retira ideologicamente da economia, é mais grave a médio prazo
para a nossa independência, do que a entrada da troica em 2011.
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