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domingo, 27 de julho de 2014

Julho de 2014



Escrever em Junho para colher os acontecimentos em Julho. A Alemanha é campeã do mundo de futebol. Na final venceu a seleção da Argentina, de forma merecida. 


As eleições primárias do partido socialista continuam a pontuar o espaço mediático. Uma comissão eleitoral definiu as regras e os dois candidatos mantêm agora uma demanda pelos votos dos militantes e dos simpatizantes mais ativos. É um exercício de preparação para António Costa com vista às eleições legislativas. O exercício está subordinado ao tema genérico “como construir um discurso político alternativo que não seja revolucionário nem seguidista do diretório europeu”. 


A crise do momento é, contudo, a crise do grupo espírito santo, que arrastou para o seu redemoinho, o banco espírito santo e contaminou (e foi por sua vez contaminada) pela queda de Ricardo Espírito Santo Salgado. 


Concentremo-nos nas interpretações discutidas no espaço público (mediático, parlamentar) que procuram encontrar as causas e as consequências da crise que atingiu estas instituições financeiras e esta família com longa tradição na vida política e económica portuguesa.


Há quem considere que a crise do grupo espírito santo está circunscrita e não contaminará o banco, não tendo verdadeiro impacto sobre a economia e sobre o equilíbrio das finanças públicas. Mesmo que existam imparidades, a instituição bancária tem uma “almofada de segurança” própria e outra concedida ao estado português pela troica, que permitirão absorver as ondas de impacto sistémicas. Esta teoria é sustentada por inúmeros factos, entre os quais o aumento da notação de risco (rating) da dívida pública, pela Moody’s. 
Em relação à detenção de Ricardo Espírito Santo Salgado assume-se que, de futuro, os partidos políticos e restantes forças políticas deverão ter mais cuidado na forma como ocorre a polinização cruzada com os grupos económicos e financeiros. Esta é a análise de um grupo de críticos que vê em Pedro Passos Coelho e nesta maioria, as forças políticas que criarão uma relação nova entre economia e política, separando os domínios: o estado retirar-se-á de todas as atividades económicas e passará a exercer o papel de regulador.


Outros apoiam-se numa posição do tipo “nós, avisamos!” ou “esta crise é a crise do capitalismo financeiro na fase da globalização”, eu acrescentaria pós-imperialista, em que o nepotismo e a corrupção das elites financeiras e políticas, portuguesas e estrangeiras (angolana, chinesa, americana) arruinaram o país.  


Muitas outras variantes às duas posições anteriormente descritas podem ser encontradas em jornais, revistas, blogues, na televisão e na rádio, em livros recém-chegados aos escaparates (e em outros que se lhe seguirão). E, provavelmente, arriscam estar ou vir a estar corretas, sendo mais ou menos confirmadas pela análise histórica.


Limito-me a olhar através de uma eventual nova perspetiva, a de um nacionalismo algo deficitário.

A crise financeira desencadeada pelo grupo (e pelo banco) espírito santo é a contrapartida privada da crise da dívida soberana portuguesa, que obrigou à intervenção da comissão europeia, banco central europeu e fmi.

No final, aquilo que desfila ante os nossos olhos é o endividamento apocalíptico da economia portuguesa, resultante de um modelo de crescimento e desenvolvimento que não está (esteve) adaptado às novas realidades históricas. Não devemos, apenas, rejubilar com a queda dos grupos económicos e das elites políticas portuguesas. 


O grupo espírito santo está a desmoronar-se, não pela ação política de forças progressistas, mas pela perda de competitividade no mercado financeiro global. Este acontecimento não é consequência de uma estratégia política interna, mas é sim, uma imposição decorrente da ação de forças políticas e económicas externas. Não tenhamos ilusões: sendo nós uma economia de mercado, o desaparecimento de grupos económicos, a aquisição maioritária de outros e o desaparecimento de centros estratégicos nacionais, associados a um estado que se retira ideologicamente da economia, é mais grave a médio prazo para a nossa independência, do que a entrada da troica em 2011.              

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