Os resultados das eleições europeias de 25 de Maio de 2014 comprometem
todos os cidadãos europeus e não apenas as elites políticas e intelectuais. Os
portugueses fizeram um esforço excessivo durante os últimos seis anos para que
o projeto da união europeia e da moeda única sobrevivesse. Os portugueses estão
muito comprometidos com a Europa.
Nas eleições europeias os partidos políticos portugueses e a classe dos
politólogos, comentadores e jornalistas fizeram, julgo eu, um conjunto de análises
que se assemelham àquelas refeições preparadas e embaladas previamente que,
para serem consumidas, precisam de ir durante 20’ ao micro-ondas.
Os partidos da maioria que apoia o governo (partido social democrata e
partido popular) tiveram um resultado medíocre em relação ao registo obtido
pelos dois partidos quer em eleições europeias, quer em eleições legislativas. Este
desempenho foi condicionado pelo decurso do período de resgate e pela
consequente aplicação do programa de ajustamento económico e financeiro. Mas
não só. O governo empenhou-se para além do razoável em seguir as orientações do
diretório europeu, da Alemanha e do fundo monetário internacional e, acima de
tudo, transmitiu duas mensagens muito reveladoras: a primeira era que estava de
alma e de coração com as opções mais radicais definidas pela troica para a
aplicação do memorandum, isto é, o
governo de Portugal interpretou de forma ortodoxa as orientações ideológicas e
económicas definidas pelos países do Norte para o futuro dos países do Sul da europa;
a segunda era a de que estaria a fazer tudo para aplicar as exigências da
troica, independentemente das consequências para as pessoas mais pobres.
O partido socialista venceu as segundas eleições depois da assinatura do
memorandum, por uma margem escassa. O
partido socialista estava no poder quando ocorreu a assinatura do memorandum. O partido socialista votou a
assinatura do tratado orçamental europeu. O partido socialista tem um líder que
não tem densidade política, é pouco carismático e sobrevaloriza as questões táticas
em detrimento das estratégicas.
O partido comunista manteve o registo de competência política e ganhou
votos, elegendo mais deputados para o parlamento europeu. A estratégia no
contexto português é, contudo, dominada pelo bloqueio de soluções de governo à
esquerda e, a médio prazo, está interessado na defesa da sua posição própria.
O bloco de esquerda não se esgotou mas esgotaram-se os seus motivos de
interesse e, adicionalmente foi vítima do comportamento instável do seu
eleitorado de referência.
O movimento partido da terra e o Dr. Marinho e Pinto concentraram algum do descontentamento
da sociedade portuguesa com a classe política e foi-lhe atribuída uma relevância
que corresponderá à exposição pública do seu cabeça de lista mas não traduz o
valor da sua alternativa política.
Enfim, os portugueses que contribuíram de forma decisiva para salvar a
união europeia não conseguiram gerar alternativas políticas válidas para o seu
futuro próximo.
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