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domingo, 16 de setembro de 2012

15 de Setembro de 2012

Nestas coisas das manifestações, dos tumultos e das revoluções, somos muito genuínos. Nós os portugueses. Este povo que foi de um lado ao outro do mundo. Este romantismo que nos eleva e nos afunda, que nos revolve a imaginação e destrói o ânimo.
A 15 de Setembro o povo português saiu à rua. Como tinha feito em 1 de Maio de 1974. Foram os homens, as mulheres, as crianças, os idosos, os estudantes, os trabalhadores, os políticos, os donos dos pequenos negócios, os desempregados ainda com subsídio e aqueles que já não têm direito a comer, os precários, os professores, os médicos, os enfermeiros, os funcionários públicos, os excedentários, os da mobilidade especial, os dos recibos verdes, os reformados, os motoristas, os antigos combatentes da guerra colonial, os estagiários neófitos e os empregados nos estágios, os pais, os filhos e os avós que vivem da reforma e os avós que vivem da reforma e que alimentam os filhos desempregados e cujos netos vão para a escola todos os dias iludidos com futuro.
E este povo foi sempre assim: vamos à manifestação! O puto às costas, anda daí Vera, nunca mais te despachas, umas sanduíches, o boné que está um sol abrasador. E a emoção. Essa que só surge no recato do lar, no bar do emprego e, esporadicamente, quando perdemos a paciência por tanto nos malharem e queremos conquistar de novo os mares. Flores, cartazes mordazes, sorrisos, encantamentos, as cidades engalanadas, todos iguais. Brincamos hoje à revolução. Na segunda-feira continuamos o nosso fado.
Mas esta tarde foi muito bonito. Quando um povo se mostra tão afectivo, emocionado, contundente, exigente e revolucionário, é bonito. Fiquei orgulhoso do meu povo. Menos de mim próprio, porque não me manifestei. Não tenho nenhuma certeza, excepto uma: o povo português vai sofrer muito nos próximos anos, mas vai resistir como sociedade organizada neste território limitado.
A manifestação de 15 de Setembro pode vir a ser um momento com lugar na história. De cidadania, à procura de uma democracia que está escrita, mas não é vivida.

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