Pesquisar neste blogue

sábado, 25 de agosto de 2007

Portimão: o discurso

Era noite há alguns momentos. Olhei desatento para um cartaz do Bloco de Esquerda. E continuei à procura de uma banca de revistas e jornais para entreter o tédio. Entre os títulos ingleses e alemães, foi-se destacando progressivamente uma voz conhecida. O Francisco Louçã discursava para algumas pessoas sentadas e mais algumas de pé. No total umas duas centenas. Algumas tinham os traços da militância, outras eram gente da terra, outros ainda turistas veraneantes.
Muito magro, falava gesticulando de forma precisa. Utilizava o verbo com um rigor estudado. Era uma história contada a gente simples pontuada por cálculos econométricos demagógicos: "um trabalhador da classe média que não gastasse nada do seu salário em alimentação, saúde e educação teria de trabalhar cerca de 300.000 anos para juntar a fortuna do homem mais rico de Portugal".
Era a história dos dois lados de Portugal: o que está bem contra o que está mal. A cultura, a língua e a história contra o desemprego, a injustiça social, a exploração do homem pelo homem. O maniqueísmo da esquerda revolucionária. Com muitas verdades à mistura que ressoavam na mente das pessoas que assistiam (manifestantes ?!).
O tique de alguns intelectuais: a cultura, a língua e a história estão do lado esquerdo do espectro político. A História de Portugal é a história dos diversos modos de produção, das suas contradições, avanços e recuos, como em qualquer país, aliás. Como diferença apenas o facto de que percorremos a maior parte dos séculos como um país europeu atrasado e sub-desenvolvido.
É verdade contudo, que as desigualdades sociais são, hoje em dia, um dos factores que mais contribui para a anemia de que sofrem os nossos indicadores do desenvolvimento. E ainda bem que existem forças políticas na sociedade que discutem e dão voz a uma das grandes ameaças da sociedade portuguesa (e europeia) actual: o desemprego.
Numa noite serena de Agosto, de um Verão moderado, ouvia-se a voz de Francisco Louçã, fazendo analogias e parábolas. Exigia que a democracia fosse respeitada. A democracia estava a ser praticada: por ele, por todos nós.

Sem comentários: