Neste fim-de-semana encontrei à beira do rio Tejo um pescador à linha. Num lugar qualquer da margem, pouco importa. Esperava pelo sinal do anzol para accionar o mecanismo. Fiquei ali à espera enquanto o observava e tornei-me silencioso. Esperei pelo sinal que lhe surgisse. O silêncio suficiente para ser ouvido pelo pescador. Os meus pensamentos eram muito ruidosos. Demasiada ascese torna o silêncio uma equação impossível.
O pescador desviou lentamente a face na minha direcção e parou o seu olhar por momentos. Voltou à sua espera e fixou o seu olhar no rio. Murmurou qualquer coisa que não percebi. Esperei que olhasse de novo na minha direcção.
Demorou. Achei que iria dizer-me alguma coisa. Esperei. O sinal do anzol não chegou. Voltou a face na minha direcção e antes de arrumar as suas coisas para deixar a margem do rio fixou-me e disse: "Não existem dias perfeitos".