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sábado, 27 de janeiro de 2007

D. João II



«... Foi de mui viva e esperta memória e teve o juízo claro e profundo; e porém suas sentenças e falas que inventava e dizia tinham sempre na invenção mais de verdade, agudeza e autoridade que de doçura nem elegância nas palavras, cuja pronunciação foi vagarosa, entoada algum tanto pelos narizes, que lhe tirava alguma graça. Foi rei de mui alto, esforçado e sofrido coração, que lhe fazia suspirar por grandes e estranhas empresas, pelo qual, conquanto seu corpo pessoalmente em seus reinos andasse para as bem reger como fazia, porém seu espírito sempre andava fora deles, com desejo de os acrescentar. Foi príncipe mui justo e mui amigo de justiça e nas execuções dela mais rigoroso e severo que piedoso, porque, sem alguma excepção de pessoas de baixa e alta condições, foi dela mui inteiro executor, cuja vara e leis nunca tirou de sua própria seda, para assentar nela sua vontade nem apetites, porque as leis que a seus vassalos condenavam nunca quis que a si mesmo absolvessem.»
Da Crónica de D.João II, de Rui de Pina


A minha filha perguntou-me se os portugueses conheciam o rei D. João II. Tive muita dificuldade em responder-lhe.
Muitos não sabem quem é; alguns recordam referências óbvias feitas nos compêndios da escola; outros acrescentaram às primeiras alguns pontos recolhidos em artigos de divulgação ou crónicas de jornais e revistas; poucos, muito poucos, conhecem a dimensão política e sociológica do personagem histórico.

Não é possível dissociar a figura do seu tempo: uma verdade que ninguém discute ou contesta. Sou suspeito para pronunciar-me sobre D. João II: admiro a sua mundividência e a dimensão planetária do seu conceito de Portugal.