A minha filha R. tem o seu aniversário no dia 11 de Junho. É programadamente displicente com a data. Como quase todos os meninos da sua idade, espera ansiosamente que nos lembremos do acontecimento. Depois, sorri envergonhada. Feliz.
As demonstrações de afecto são saudáveis. Quando lhe disse que me lembrava do dia em que nasceu, isto é, quando recordei os afectos, os objectos e as pessoas contemporâneos do seu nascimento, senti-a crescer um pouco mais. A sua alma ficou mais sólida. Queria que ficasse também mais solidária. Queria ter conseguido tal efeito.
Nasceu no ano em que foi exibido pela primeira vez o filme "Braveheart": ainda não consegue assistir às cenas mais violentas.
A Suécia, a Finlândia e a Áustria entraram na União Europeia: vou rever com ela os países que constituem actualmente a referida união política.
O Prémio Nobel da Medicina e da Fisiologia foi atribuído a cientistas que desenvolveram trabalho na área do controlo genético do desenvolvimento embrinário precoce: prevejo que a sua geração irá ser confrontada com desafios científicos e éticos complexos na área da genética.
A Convenção dos Direitos da Criança baniu a utilização de crianças como soldados, facto banal nas guerras disputadas no Afeganistão, Iraque, Moçambique ou Somália.
Em cerca de uma vintena de países do mundo a desigualdade sexual manifestava-se por uma taxa de analfabetismo superior a 50% entre as mulheres: na sua escola, os meninos e as meninas foram sempre tratados de forma igual. Aquele outro mundo que era o dela quando nasceu, e que continua ser o dela, quase parece uma invenção.
E morreu Miguel Torga, mas não os seus poemas e contos.
"Confiança
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova..."
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